Se alguém dissesse que um dos maiores símbolos da cultura goiana cabe dentro de uma fôrma de alumínio, você acreditaria? Pois é. Mas não estamos falando de qualquer prato. Estamos falando de uma verdadeira instituição gastronômica, capaz de unir gerações em volta da mesa, provocar discussões acaloradas sobre o recheio ideal e deixar qualquer um hipnotizado com o perfume que invade a casa quando sai do forno: o empadão goiano.
Muito antes dos “trends” de comida afetiva tomarem conta das redes sociais, ele já reinava absoluto nas cozinhas da antiga Vila Boa, atual Cidade de Goiás. Com mais de 150 anos de história, esse prato não é só uma delícia tradicional: é um emblema da identidade do estado, um pedaço comestível da alma goiana.
Mas o que exatamente torna o empadão tão especial? Por que ele vai além da fama de “empada gigante”? E o mais importante: por que, se você nunca provou, está perdendo uma das experiências mais saborosas do Brasil? A resposta pode estar no recheio, na massa ou em algo mais profundo: o sabor da história que ele carrega. Vamos nessa?
Uma viagem de 150 anos pela antiga Vila Boa
O empadão goiano tem cerca de 150 anos e nasceu na antiga capital do estado, a histórica Cidade de Goiás (chamada Vila Boa à época). É provável que receitas europeias, como os “pastelões” portugueses, tenham sido a inspiração, mas o empadão ganhou alma goiana ao incorporar ingredientes locais do cerrado.
O que o torna tão diferente
Pode parecer uma empada gigante, mas o empadão goiano foge completamente desse rótulo:
- Tamanho e forma: feito em fôrmas específicas que variam de 20 cm até mais de 35 cm, sempre com massa bem fina e generoso recheio, diferente das empadas pequenas de padaria.
- Recheio emblemático: frango é o carro-chefe, acompanhado de carne de porco (lombo ou pernil), linguiça, azeitonas, palmito, queijo-de-minas, molho de tomate, miolo de pão e até ovo. Em algumas versões, predominam ingredientes do cerrado como pequi e guariroba.
- Identidade: se empadinhas são lanches de festa, o empadão é comida de casa, receita de família, identidade goiana levada a sério, já está sendo reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Goiás e está em processo de reconhecimento nacional pelo IPHAN.
Riqueza cultural e sabor regional
Mais do que uma refeição, o empadão goiano é expressão da miscigenação que constitui a culinária de Goiás: mistura de indígenas, paulistas, mineiros e portugueses; adaptação de produtos do cerrado; releituras de receitas europeias. De forma deliciosa, ele conta a história de um povo e sua terra, e, ainda por cima, satisfaz qualquer fã de comida farta.
Patrimônio com sabor e história
Em abril de 2023, a Assembleia Legislativa de Goiás aprovou o Projeto nº 226/23 que reconhece oficialmente o empadão goiano como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado. Um reconhecimento coerente: afinal, poucos pratos carregam o DNA histórico, afetivo e cultural como esse.
Por que você PRECISA experimentar
- É autêntico: resultado de 150 anos de tradição, aprimoramento familiar e ingredientes que falam da terra.
- É generoso: porções capazes de saciar qualquer fome, e despertar curiosidade até em quem achava que já sabia o que era saboroso.
- Faz parte de uma cultura: mais que prato, é patrimônio, identidade e ritual. Quem prova, entende melhor Goiás; e quem não prova está perdendo parte da alma goiana.
Em resumo…
Se Goiás fosse um sabor, seria empadão. Um prato que mistura história, afeto, parentes reunidos e a generosidade do cerrado. Não é para qualquer um: é para quem quer devorar de alma e corpo. Escolha seu pedaço, envolto em massa fina e recheado com essa história goiana. E sinta o calor da antiga Vila Boa em cada garfada.
Essa é uma iguaria que merece ser celebrada, e degustada. Você não precisa cruzar o cerrado para começar: restaurantes típicos em Goiânia oferecem versões genuínas. Mas, se puder, vá até a Cidade de Goiás, onde tudo começou. É história, cultura e fartura, tudo numa mordida só.